Produção de cacau é realidade e apresenta bons resultados a partir de incentivos do Governo do Ceará

31 de agosto de 2021 - 15:12 # # # # # #

Antonio Cardoso - Comunicação Institucional - Texto
Helene Santos - Fotos Elígia Cavalcante - Vídeo

Plantação é feita no Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas, entre as cidades de Limoeiro do Norte e Russas e chega a produzir três mil quilos de amêndoas por hectare

Considerado o “fruto de ouro” devido à sua alta lucratividade, o cacau é originário da América Central, mas disseminado por todo o mundo. Há pouco mais de 10 anos é cultivado também em terras cearenses. Dados de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a Bahia é o maior produtor de cacau do Brasil com uma área plantada de 480 mil hectares e produção de 122 mil toneladas. Com seus 174 mil hectares e 116 mil toneladas produzidas, o Pará é, hoje, o 2º maior produtor nacional.

Por apresentar área colhida de cerca de 707 mil hectares plantados e produção estimada em 255 mil toneladas, o Brasil atualmente se situa na 7ª colocação no mercado mundial cacaueiro, mas já liberou a exportação desse produto. O Ceará, através de suas áreas irrigadas, tem grande potencial de produção comercial do cacau. Outra vantagem está no clima semiárido, que impede naturalmente a proliferação de fungos, como a vassoura-de-bruxa. A doença é responsável por sérios problemas na produção de outros estados brasileiros.

Analista de Atração de Investimento e Mercado da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Sérgio Baima ressalta que o objetivo do Governo do Ceará é incentivar a produção do cacau, fruto do qual é fabricado o chocolate, alimento bastante valorizado no mercado. “O cacau tem importância adicional por ser um produto industrial e ter alto valor agregado. Mas nós queremos melhorar ainda mais essa produção”.

Logo nos primeiros anos de plantio de cacau no Ceará, a sequência de anos de seca quase impediu a continuidade do projeto. Felizmente esse cenário tomou rumos positivos e hoje a questão hídrica está quase que totalmente normalizada. “Em 2011, tínhamos o Castanhão cheio. Aguentou três anos e quase secou. Hoje, o açude tem cerca de 15% e estamos conseguindo manter a irrigação porque há um cuidado muito maior com a água. O cacau contribui com o pensamento do Governo de aumentar a renda de produtores, sejam grandes ou pequenos, de modo parcimonioso no uso da água”.

Início positivo

No Perímetro Irrigado do Tabuleiro de Russas, entre as cidades de Limoeiro do Norte e Russas, foram plantadas as primeiras mudas de cacau, em 2010. A iniciativa partiu da União dos Agronegócios no Vale do Jaguaribe (Univale), com apoio da Comissão Executiva de Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Logo na 1ª safra, foram três mil quilos de amêndoas por hectare, superando em muito a média de 350 quilos por hectare registrado no Sul da Bahia, principal região produtora do Brasil. Atualmente, o Estado conta com 25 hectares plantados. “O Governo do Ceará fez um projeto de incentivo à introdução de cacau no Ceará, através de produtores privados que aceitaram fazer o investimento. O Estado entrou com a parte tecnológica, trazendo técnicos da Ceplac para dar suporte e logo começaram a produzir cacau”, lembra Sérgio Baima.

Baima frisa que a insolação (quantidade de horas de sol durante o dia), no Ceará, melhora a produção e faz com que o cacau seja precoce. “A precocidade é uma das coisas básicas para a produção. Não é bom ter que esperar por cinco anos para o cacau desenvolver. Aqui, ele se desenvolve em três anos. Entre a saída da flor e a produção, normalmente, em outros estados, chega a 200 dias. No Ceará, em 140 dias há o processo. É realmente mais precoce, o que faz com que o Ceará possa ter um grande potencial”, avalia o analista da Sedet.

Especificidades

O engenheiro agrônomo Diógenes Abrantes é um dos responsáveis pelo experimento da produção de cacau no Ceará. Segundo o especialista, embora tenha surgido como cultura alternativa para os produtores, tem grande potencial de produção. “É uma imensa oportunidade, mas para isso precisamos usar de tecnologia, como irrigação, uso da fertilização, da adubação e técnicas de poda. Temos uma grande vantagem por a umidade relativa em nossa região ser muito baixa e, principalmente, por não termos problemas de doenças fúngicas, como uma das mais conhecidas que é a vassoura-de-bruxa. Aqui ela ainda não apareceu”.

Para uma boa produção, os cacaueiros precisam de sombreamento e barreira para os fortes ventos. O que poderia ser uma dificuldade é, na verdade, oportunidade de mais negócios, uma vez que os produtores podem aproveitar o espaço para o plantio de banana, coco e cajarana, por exemplo. A técnica consorciada é a adotada na Fazenda Frutacor, em Russas, onde estão plantados, atualmente, três hectares de cacau.

Atualmente, a rentabilidade do cacau é de R$ 1 mil por hectare. “Isso, se o interesse for de processamento apenas da amêndoa. Se fizer a venda da poupa, o ganho vai para R$ 1,3 mil. E caso seja uma produção de agricultura familiar, onde o próprio agricultor executa a mão de obra, essa percentagem aumenta para R$ 1,5 mil livres, por hectare, a partir do 3º ano”, afirma o agrônomo.

Ainda conforme Diógenes, o Estado do Ceará já possui o know-how necessário para uma boa atuação dos agricultores. “A implantação dos cacaueiros no Ceará apenas foi possível pela parceria entre o Governo do Estado e a iniciativa privada. O Governo incentivou com consultorias, através de projetos da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará), e custeando a vinda de especialistas ao Ceará. Hoje, a Sedet mantém um consultor do cacau na região”, explica, acrescentando que outras regiões já iniciaram o processo de plantação, como a do Acaraú.

Renda

O agricultor Kerginaldo de Freitas está empregado há 13 anos na Fazenda Frutacor. Lá, ele que viu todo o início do processo, é responsável por manter a produção de cacau livre de pragas e com água suficiente. Ele é daquelas pessoas apaixonadas pelo trabalho. No meio da plantação, segundo afirma a quem pergunta, é onde se sente bem e agradecido por tudo o que já conquistou. “Vale muito a pena. Aqui, eu ganho o pão de cada dia e consigo minhas coisas”, fala, agradecido, o agricultor. “Graças a Deus, já comprei um carro, minha casa e tenho uma moto para vir trabalhar. Só assim eu consegui ter minhas coisas”, comemora.

Assim como Kerginaldo, quem comemora a rentabilidade do cacau é Diógenes, o engenheiro agrônomo que agora também produz chocolate. Após estudar e constatar a lucratividade do principal produto do cacau, ele decidiu há menos de um ano abrir a própria fábrica e contar com a força de trabalho de moradores de Limoeiro, onde instalou a Cacau do Ceará. “Por enquanto, estamos com cinco produtos: o pó de cacau, o Nibs de 80 gramas e o de 100 gramas, e dois tipos diferentes de chocolate que são os de 46% e 70%”, conta.

A produção, de acordo com o empreendedor, tem bastante aceitação. “Já estamos procurando um novo local e comprando maquinário para multiplicar por mais ou menos oito vezes o trabalho feito hoje na fábrica. É um negócio rentável. De chocolate todo mundo gosta”, conclui Diógenes.