G20: Países africanos lideram debate sobre dívidas soberanas no Ceará

11 de junho de 2024 - 18:45 # # # # # #

Íkara Rodrigues – Governo do Ceará – Texto
Hiane Braun e Thiago Gaspar – Casa Civil – Fotos

Debate, realizado na Unifor, propôs repensar modelos existentes de arquitetura financeira e os desafios ligados a problemas climáticos

Com o objetivo de dar voz aos países africanos a partir da perspectiva de representantes do continente, Fortaleza (CE) recebeu, nesta terça-feira (11), o “Africa-led debate on debt and development financing” (Debate liderado pela África sobre dívida e financiamento do desenvolvimento). O encontro, realizado na Universidade de Fortaleza (Unifor), compõe a programação da 3ª Reunião do Grupo de Trabalho de Arquitetura Financeira Internacional do G20 no Ceará.

“Nós tivemos a oportunidade de ter visões diferentes, perspectivas diferentes, de técnicos de áreas diferentes em uma mesma oportunidade. (A reunião) traz para a presidência do G20 perspectivas de africanos sobre problemas do continente africano”, explica o advogado e presidente da African Legal Support Facility (ALSF), Olivier Pognon.

A reunião foi uma iniciativa pioneira dentro da presidência do Brasil no G20 e discutiu fortalecimento das capacidades dos países do continente africano para buscar soluções para o alívio da dívida externa e impulsionar o desenvolvimento da região. “São 54 nações africanas com especificidades e com questões bem diferentes. Um erro muito comum é tomar a África como algo único. O que nós estamos tentando atingir aqui, com esse encontro, é uma convergência. Ou seja, levar a um patamar mais granular o entendimento para que haja mais harmonia entre os países do continente africano”, acrescenta Olivier.

Mariana Davi, que integra a equipe da Trilha de Finanças do fórum coordenado pelo Ministério da Fazenda do Brasil, pontuou que a atividade com representantes africanos é uma das principais entregas do grupo pela construção de uma arquitetura financeira internacional mais justa, delineada como prioridade da presidência brasileira do G20.

“Algumas das proposições estão vinculadas a uma maior participação e representatividade dos países africanos nos organismos financeiros internacionais, a tentativa de que os bancos multilaterais de desenvolvimento também tenham participação maior na construção de soluções para as dívidas dos países africanos, prioridades da presidência brasileira do G20”, explicou a especialista.

Repensar modelos

O encontro ainda discutiu o modelo da arquitetura financeira global atual e os desafios ligados a problemas climáticos. “A partir do exemplo que aconteceu aqui no Brasil (com as enchentes no Rio Grande do Sul), os países africanos fazem parte de um continente bastante atingido por efeitos das mudanças climáticas”, comentou Oliver.

Segundo Pognon, o continente africano responde por 4% dos fatores que tornam mais complicados o cenário das mudanças climáticas, no entanto, acaba sofrendo consequências de ações realizadas em outras partes o planeta. “Precisamos rever essa arquitetura internacional de financiamento para que possamos obter mais empréstimos concessionais e tenhamos mais oportunidade de aquisição de fundos”, acrescenta.

Na avaliação de Olivier, embora a ajuda internacional exista, os países africanos precisam voltar suas atenções para soluções locais. “Essa arquitetura precisa ser revista para que o continente africano possa ter todas as suas potencialidades aproveitadas da melhor maneira. Nós temos que levar em consideração dois grandes fatores: o primeiro, a juventude africana, que precisamos pensar para os próximos 50 anos e a segunda questão são os recursos naturais, todos os minérios e as riquezas que o continente africano tem a oferecer. Ou seja, precisamos de uma nova arquitetura para liberar todas as nossas potencialidades não só para que o continente africano desfrute disso, mas para que todo mundo possa desfrutar dessas potencialidades”, ressaltou.