Dia do Índio: data para reflexão e reafirmação da luta por direitos

19 de abril de 2018 - 11:39 # # # #

Rafael Ayala - Assessor de Imprensa da Coordenadoria dos Direitos Humanos

Para os povos indígenas, o Dia do Índio, comemorado no dia 19 de abril, é um dia para a reflexão sobre a luta e a resistência dessa população no Ceará e no Brasil. Segundo o cacique Kauã Pitaguary, apesar de a data ser emblemática e de grande importância, ainda é envolta em muito preconceito, marcada por uma cultura de estereótipos, como índios que somente andam pelados e moram em casas de palha, as tradicionais ocas. Sabemos que hoje a realidade dos indígenas é bem diferente. Através de nossa luta chegamos à universidade com cursos específicos e diferenciados, podendo gerenciar e administrar nós mesmos nossos processos de educação e de geração de renda na própria aldeia, por meio das escolas diferenciadas e projetos autossustentáveis”, explica o cacique.

Para Kauã, conselheiro indígena da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Ceppir), a data é uma oportunidade para a luta dos povos indígenas ser evidenciada, quando as escolas preparam seus projetos e apresentações culturais para alunos e visitantes.Dia em que celebramos as conquistas e avanços, onde expressamos nossa alegria por meio das pinturas e rituais. Também fazemos protestos e reivindicações daquilo que ainda nos falta. Encorajamos os nossos guerreiros e guerreiras a lutarem pelos ideais do nosso povo, pela proteção e preservação do território e pela garantia do usufruto para nossos descendentes”, destaca.

Etnias indígenas no Ceará

De acordo com dados do Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, a população indígena brasileira é de 896,9 mil indígenas. No Ceará, o Distrito Especial de Saúde Indígena do Ceará (DSEI-CE) atendeu uma população de 33 mil indígenas em 2016 em sua área de cobertura. Os dados populacionais fazem parte de um cadastro realizado pelo DSEI para o atendimento da população e não representam o censo da população indígena, mas para estudos e pesquisas sobre povos indígenas são utilizados por serem os dados populacionais mais recentes.

Presentes em 20 municípios, as 14 etnias indígenas cearenses são: Tapeba, Tabajara, Potyguara, Pitaguary, Tremembé, Anacé, Kanindé, Tapuia-Kariri, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Tubiba-Tapuia, Kariri, Gavião e Tupinambá. A principal bandeira de luta dos povos indígenas do Ceará é a regularização dos territórios ocupados tradicionalmente por esses povos. Ainda hoje somos alvo de muitos retrocessos, processos e determinações judiciais que fragilizam e impactam negativamente na permanência e na reprodução cultural e física dos indígenas em nossos territórios. Por este motivo, faz-se necessário visibilizar as causas que são próprias deste movimento”, pontua o cacique Kauã Pitaguary.

Primeira reserva indígena do Estado

A população da tribo Taba dos Anacé, povo que habitava a região de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza, recebeu, em fevereiro, a Reserva Anacé, a primeira do Ceará. No País, 35 terras já foram demarcadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Outras 15 estão em processo de demarcação.

Localizada no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, a área possui 543 hectares, extensão que agora abriga gente das aldeias Baixa das Carnaúbas, Currupião, Matões e Bolso. Na reserva, 163 famílias foram contempladas com casas de alvenaria, escola e posto de saúde, acesso viário, sistemas de energia elétrica, além de redes de água, esgoto e drenagem.A luta continua viva dentro de nós, apesar de alguns dos nossos guerreiros terem tombado, nós que ficamos tocamos essa luta. Afinal, todo dia é dia de índio”, reforça o cacique Kauã.